dialética negativa

Thursday, September 05, 2013

Teoria da literatura II 2013-01



Octavio Paz. Filhos do barro. p. 85
 O poema não é_ apenas uma realidade verbal: é também um ato. O poeta diz e, ao dizer, faz. Este fazer é
sobretudo um fazer-se a si mesmo: a poesia não é só autoconhecimento, mas também autocriação. O leitor, por sua vez, repete a experiência da autocriação do poeta e assim a poesia encarna-se na história. No fundo desta idéia vive ainda a^antiga crença no poder das palavras: a poesia pensada e vivida como uma operação mágica, destinada a transmutar a realidade.
Francisco Alvim
"Vou parar de falar.
vou fazer"


ANDRADE, Oswald de. Memórias Sentimentais de João Miramar. Serafim Ponte Grande. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1971.

p.131-132 Introdução de Serafim Ponte Grande
O anarquismo da minha formação foi incorporado à estupidez letrada da semicolônia. Freqüentei do repulsivo Goulart de Andrade ao glabro João do Rio, do bundudo Martins Fontes ao bestalhão Graça Aranha. Embarquei, sem dificuldade, na ala molhada das letras, onde esfusiava gordamente Emílio de
Menezes.
A situação "revolucionária" desta bosta mental sul-americana, apresentava-se assim: o contrário do burguês não era o proletário — era o boêmio! As massas, ignoradas no território e como hoje, sob a completa devassidão econômica dos políticos e dos ricos. Os intelectuais brincando de roda. De vez em quando davam tiros entre rimas. O único sujeito que conhecia a questão social vinha a ser meu primo-torto Domingos Ribeiro Filho, prestigiado no Café Papagaio. Com pouco dinheiro, mas fora do eixo revolucionário do mundo, ignorando o Manifesto Comunista e não querendo ser burguês, passei naturalmente a ser boêmio.

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Continuo a viver uma vida acanalhada.
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Domingo
Decidi traçar um sério programa de estudos e reabilitar
assim a minha ignorância. Português, aritmética, latim, teo-
sofia,  balística, etc.
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Quinta-feira
Fomos visitar ontem, o Dr. Costa Brito. Um grupo de
admiradores. Está hospedado na finíssima Rôtisserie. Parece
um ator. Usa chapéu verde e monóculo. Mostrou-se muito
afável. Conversamos sôbre a falta de idéias que caracteriza
o nosso país.

Segunda-feira
A César o que é de César. Beijei a criada nova.
A outra, Lalá pôs pra fora. Andava desconfiada.
É verdade, minha esposa dá ganas de escrever um drama
social em três atos tétricos. Brigas loucas porque eu gasto
luz demais com minhas leituras! Quer que eu seja inculto!
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Por causa de Dorotéia, vejo tudo possível para mim.: Tri-
bunas, Cadeias, Manicômios, Cadeiras Elétricas, etc. etc.
E vejo tudo lùcidamente. Sou o crítico teatral de minha
própria tragédia!

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